Marcelo, Marcela e Marcelino

Ceci
14 min readJun 24, 2024

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Ilustração: HQ Rusty Brown (Chris Ware)

Conto escrito para o último episódio do podcast 37 Graus.

O slogan da clínica de fertilização era Nem mais artificial que o real, nem mais real que o artificial, uma mistura perfeita dos dois. Como não cabia inteiro na fachada do prédio sem comprometer toda a área útil da parede, a solução foi instalar um painel luminoso de LED e deixar a frase correr por ele. Para conseguir ler tudo, bastava alguém ficar parado por 72 segundos na calçada. Vocês podem estar pensando que a clínica estava pedindo demais das pessoas — afinal, 72 segundos é o tempo que leva para alguém andar apressadamente pela rua por 72 segundos. Pois informo que seus instintos não poderiam estar mais descalibrados. Tantos paravam para admirar a frase que não era raro a calçada ficar congestionada de leitores.

Após desviar do público que o painel luminoso atraía naquela manhã, um homem entrou no saguão. Na verdade era um casal — a esposa encontrava-se pendurada no seu pescoço. A clínica estava bem lotada para uma quinta-feira de manhã. Tinha quase tanta gente dentro do que fora lendo o letreiro. “Desde que nasceu o filho de Patti Ramirez, de um embrião gerado aqui, agora todo dia é assim”, informava a recepcionista para os clientes que se aproximavam da bancada. 75% deles nunca tinha ouvido falar de Patti Ramirez, a protagonista de Death Riders, uma animação sobre motociclistas especializados em Globo da Morte. A maioria estava ali porque a clínica era a única num raio de 2.000 km a oferecer aquele tipo de serviço. E um ou outro tinha entendido errado o letreiro e achava que aquilo era uma suqueria.

A sala de espera estava lotada de homens e mulheres que aparentemente vieram sozinhos, mas, assim como o homem que acabara de entrar, também traziam o cônjuge a tiracolo.

Chegou a vez do nosso casal. Os dois se chamavam carinhosamente de Marcelo e Marcela, mas seus nomes verdadeiros eram Marcelo e Plethorabot full package version 4.5.

O médico, um sujeito moderadamente simpático, os recebeu em uma das salas de pré-consulta. Era tão atapetada e entulhada que Marcela só de olhar começou a espirrar. Em defesa da sala, dialogava com a tendências mais contemporâneas de decoração de interiores no ramo da saúde: abarrotar o espaço com móveis e objetos escolhidos e espalhados sem qualquer critério, passando a impressão de que havia sim um critério, mas era tão sofisticado, cheio de camadas, irônico mas ao mesmo tempo circunspecto, que o conceito todo estava além da compreensão de um paciente-sem-certificado-de-conclusão-de curso-online-de-decoração-de-interiores-no-ramo-da-saúde.

O mesmo médico que pediu para os dois entrarem também pediu para se sentarem, apontando com uma mão para uma cadeira normal e, com a outra, para um banquinho alto com uma almofada. Em cima da almofada havia um apoio para acomodar o dispositivo das Pessoas Artificiais, que era disponível em diversas formas (prisma pentagrâmico, toroide e, o mais popular, icosaedro) O apoio foi projetado para se adaptar a todos eles. Nenhum formato ficava bem encaixado, mas se não houvesse nenhum tremor no prédio ou ninguém esbarrasse ou desse uma bicuda no banco, a Pessoa Artificial estaria segura. Marcela, um tronco de pirâmide, foi inserida. Marcelo então desenhou um “M” com o dedo indicador em uma das faces da pirâmide e sua esposa apareceu em todo seu esplendor holográfico. Marcela tinha apenas 5 centímetros de altura, o tamanho máximo de ampliação indicado pelo fabricante para que a imagem não perdesse a resolução. Caso Marcelo tocasse qualquer face da pirâmide repetidas vezes com o dedo, a imagem de Marcela ia esticando até sua cabeça atingir a sala de cima, mas, nesse caso, ela seria apenas um borrão sem formas definidas.

O mesmo médico que pediu para eles entrarem e se sentarem também fez uma pergunta: “Suponho que vocês vieram aqui para adotar um porquinho da índia. Correto?”. Marcela, sem saber como reagir àquele absurdo, espirrou. Marcelo, inferindo que era uma tentativa de piada, respondeu com um sorriso polido. O médico não achou necessário dar maiores explicações sobre a frase, deixando no ar se era mesmo uma piada, ou se Marcelo e Marcela sairiam dali com um porquinho da índia nas mãos de Marcelo, ou no topo do tronco de pirâmide de Marcela.

Em seguida, realizou uma anamnese rápida:

  • A quanto tempo vocês estão juntos?
  • Quando decidiram ter filhos?
  • Foi uma decisão conjunta ou um de vocês precisou convencer o outro por meio de chantagem, suborno, ameaça física ou choro copioso?
  • Vocês já pensaram nos ajustes da rotina que terão que realizar e na maneira como vão inserir a senhora Marcela na educação da criança?
  • Vocês ficaram sabendo da clínica pelas notícias do bebê de Patti Ramirez ou por outro canal?

As perguntas pareciam sérias, e Marcelo e Marcela responderam de maneira diligente e comprometida. O médico, no entanto, parecia enfastiado. Resumia as respostas dos dois em uma ou duas palavras de impacto e anotava no formulário, às vezes até mesmo antes de eles responderem qualquer coisa. Foi ficando claro que tratava-se apenas de um protocolo, similar aos formulários de academia que perguntam se você já teve um infarto e sugerem que, caso você venha a sofrer um, tenha a cortesia de dirigir-se para fora do recinto.

Doutor Eduardo — esse era seu nome — então juntou uma mão na outra e perguntou se os dois tinham conhecimento de como funcionava o procedimento de fertilização humano-robô. Marcelo e Marcela disseram que não estavam tão a par das minúcias do processo, mas sabiam que funcionava: um casal de amigos tinha acabado de ter uma filha via FHR — o processo foi um sucesso e agora eles eram padrinhos da criança, uma menina esperta, forte, inquestionavelmente humana… Doutor Eduardo os interrompeu dizendo que não havia recomendação melhor do que os próprios filhos dos clientes. Então acionou um botão na mesa que ligou a tela localizada na parede logo atrás dele. Depois deslizou a cadeira para o lado, para sair da frente da tela.

Uma assistente virtual deu boas vindas ao casal e avisou que iria guiá-los em um tour pela “fantástica fábrica de filhos reais de pessoas artificiais” — esse era o segundo slogan da clínica, descartado para uso publicitário por ser curto e direto ao ponto demais.

Todo o processo foi explicado passo a passo:

A primeira etapa consiste na coleta do material genético do cônjuge humano. É rápido e indolor. O paciente precisa apenas esfregar um swab no interior de suas bochechas e inserir no envelope. Essa etapa pode ser feita no mesmo dia da pré-consulta, após o casal efetuar o pagamento no balcão.

O segundo passo é a coleta do material genético da Pessoa Artificial. Essa etapa precisa ser agendada, porque é necessário um jejum total de 12h. O cônjuge precisa manter a Pessoa Artificial totalmente desconectada por 12h. O procedimento pode ser realizado com o acompanhamento de um humano, que pode ser o cônjuge ou um parente de até terceiro grau da Pessoa Artificial ou então um nanotecnólogo de confiança da família. Após uma preparação simples de limpeza do corpo do aparelho com álcool isopropílico, a Pessoa Artificial é aberta (uma vez aberta, podemos inserir no pacote uma limpeza interna, consulte valores e condições no balcão) e tem seu chip escaneado para coletarmos as informações de fábrica. Nenhum dado a mais é coletado. O procedimento, que leva cerca de trinta minutos, é realizado em um ambiente climatizado e é totalmente indolor, uma vez que a Pessoa Artificial estará desligada.

Na terceira etapa é realizada a transcodificação desses dados para uma estrutura de DNA padrão humana. Não podemos fornecer maiores detalhes sobre esse processo por se tratar de segredo industrial. Mas podemos dizer que possui certificado IA1000, que garante a excelência e superioridade de nossos serviços quando comparados com os oferecidos pelos nossos 2 concorrentes — que também possuem o certificado, mas nós fomos os primeiros a conseguir.

A quarta e última etapa ocorre dentro dessa outra máquina, nossa menina dos olhos: a matriz combinadora. É aqui que a mágica da inseminação natural-artificial acontece. O material genético do humano contido no cotonete é inserido pela entrada A, o material genético da Pessoa Artificial, contido nesse cartão em formato de cotonete, entra pela porta B e a máquina realiza a leitura dos dois. Em seguida, mistura os códigos genéticos A e B e voilá, está gerado o óvulo! Ele é introduzido em uma bioprótese de útero que se encarregará de toda a gestação.

A bioprótese é mantida em uma sala com 12 câmeras, assim é possível acompanhar a gestação 24h por dia e por vários ângulos diferentes. Mas também oferecemos a opção de levá-la para casa nessa sacola, disponível para compra no balcão com várias opções de cores e nos modelos “alças paralelas” e “alça transversal”, para permitir que o casal possa acompanhar a gestação do bebê no conforto do lar.

Marcelo e Marcela fecharam negócio naquele mesmo dia e acertaram o nascimento do bebê no balcão. O nome escolhido foi Marcelino, em homenagem ao vigésimo nono papa. Marcelo quis continuar a tradição da família de nomear os filhos com nomes de papas. Seu próprio nome foi dado em homenagem ao trigésimo papa, Marcelo, que, vejam só como é a vida, foi sucessor do papa Marcelino.

A gestação de Marcelino ocorreu sem grandes sobressaltos. A bioprótese, se pudesse se queixar de indisposição, enjoos, mau humor ou dificuldade para respirar, não teria do que reclamar. O bebê Marcelino nasceu saudável, da mesma forma que o bebê dos amigos de Marcelo e Marcela, gerado pela mesma clínica. Se me permitem fazer um comentário a mais sobre isso, daria até pra dizer que Marcelino se saiu muito parecido com a filha dos amigos, que por sua vez, também guardava uma semelhança desconcertante com o filho de Patti Ramirez, mas isso em um primeiro momento não gerou incômodo em nenhum dos pais, que desconheciam a fisionomia de Patti Ramirez.

Os cuidados com o bebê ficaram sob responsabilidade de Marcelo e de uma babá, pois ambos tinham duas mãos e um corpo. Marcela cantava para o bebê, mas não era famosa por suas habilidades vocais. Era uma exímia montadora de quebra-cabeças e uma das mais prestigiadas egiptólogas da América do Sul. Interesses pouco apropriados para bebês, infelizmente. Seu hobby poderia matar Marcelinho engasgado, e recém-nascidos não costumam se interessar muito por pessoas que já morreram. Mas não podemos dizer que Marcela não se esforçou para tentar estabelecer uma conexão com Marcelino. Ela começou um dia a emitir grunhidos, gritos, suspiros e espirros, alegando ter inventado uma linguagem universal para comunicação entre adultos e bebês. Não se sabe se a invenção não deu certo por culpa de Marcelino, que não entendia o tal do “esperanto dos bebês”, ou se Marcela não havia dominado inteiramente a linguagem universal que ela mesma desenvolveu. Mais de uma vez Marcela tentou perguntar porque Marcelino estava chorando, e ele respondeu com um choro cuja única tradução possível para a nova língua era “fio de nylon”.

O afastamento entre mãe e filho se agravou à medida que Marcelino crescia. Marcela, se sentindo cada vez mais apartada da criação do filho, exigia que ele a levasse para todo canto em seu pescoço. Marcelo não permitiu, alegando que o menino era desengonçado e um pouco violento. Poderia bater ela em lugares ou arremessá-la contra algum desafeto. Como prêmio de consolação, Marcela pediu para trocarem o nome do filho para Osíris. Marcelo fingiu que não ouviu.

Quando Marcelino cresceu a ponto de conseguir sustentar uma conversa coerente, cresceu também a ponto de achar a mãe estranha. Diariamente Marcelo era bombardeado com links enviados por Marcela. Alguns eram notícias sobre assuntos aleatórios e vinham sempre com a legenda “talvez te interesse”. Mas a grande maioria dos links o encaminhava para transmissões ao vivo das palestras de Marcela pelo mundo — às vezes duas ou três palestras no mesmo horário, em línguas diferentes e sem tradução simultânea. Quando Marcelino revelava que não tinha sido possivel absorver muito das palestras, ela parecia desapontada com o nível cognitivo do garoto, insinuando que, ou ele era muito preguiçoso, ou um pouco burro. Quando Marcelino tentava conversar sobre assuntos triviais, como seu dia na escola, às vezes era interrompido com um link enviado pela mãe de uma palestra que já estava para começar, e era sua vez de achar a mãe um pouco burra por não entender que ela poderia fazer duas coisas ao mesmo tempo, mas ele não.

O menino não entendia exatamente quais características tinha herdado de Marcela. A bem da verdade, também não se via muito parecido com o pai. As semelhanças entre os três pareciam começar e terminar nos nomes.

Outro membro da família que se mostrava cada vez mais incomodado com a falta de semelhança entre os três era Marcelo. O desconforto era tanto que decidiu levar o menino para uma consulta de retorno na clínica — que ele precisou pagar porque a recepcionista alegou que, depois de 8 anos do nascimento do filho, as consultas já não poderiam ser consideradas retorno. Marcela não os acompanhou porque não foi informada da consulta. Ela tinha o hábito de cortá-lo enquanto falava para corrigir algum erro de concordância ou ambiguidade no discurso, e isso o desconcentrava. Não queria correr o risco de sair de lá sem entender o que tinha perguntado, nem o que o médico tinha explicado.

O médico que os atendeu era outro. Marcelo ficou meio assim de perguntar se não era possível ser atendido pelo doutor Eduardo, com medo de ele ter morrido. Depois criou coragem e perguntou. Ele de fato tinha morrido. Quem os atendia agora era o doutor Ricardo.

“Nós estamos com uma duvida, doutor”, começou Marcelo. “Marcelino não se parece em nada comigo, nem com meus parentes. Como isso pode ter acontecido?”

O médico respondeu que era normal isso acontecer com qualquer criança: “É comum elas puxarem mais um lado da família. O meu filho é a minha esposa, uma cópia perfeita. É até desconfortável olhar pra ele às vezes. Parece que a minha esposa nasceu de novo, sabe?”

Marcelo se sentiu à vontade para fazer a derradeira pergunta que o incomodava, já que Marcela não estava presente: “Mas como, doutor, ele puxou mais minha mulher, se a Marcela não tem um corpo humano?”

O médico olhou para os dois horrorizado, como se Marcelo tivesse dito uma atrocidade sobre sua esposa, um insulto da maior importância.

“Pelo que estou vendo aqui no cadastro de vocês, Marcela é uma Pessoa Artificial de propriedade da empresa BetterPartner, certo? Ela não tem autonomia sobre suas características faciais e corporais, não pode tomar decisões financeiras de grande escala, guardar mágoas por longos períodos de tempo, usar termos ofensivos em discussões e desejar se separar por motivo fútil, correto?”

“Sim, tudo correto. Passei por uma experiência traumática com uma Pessoa Artificial Pública no passado e não queria correr o risco de novo. Essa cicatriz aqui no queixo foi por causa dessa pessoa.”

“Você se automutilou?”

Foi a vez de Marcelo olhá-lo escandalizado.

“Evidente que não. Foram os credores. Mas graças a Deus hoje está tudo quitado. Os que ainda estão vivos foram pagos.”

“Pois bem. O código genético de Marcelino foi estruturado a partir de uma mistura do seu código com um código genético que representava o fenótipo de Marcela na época de sua criação.”

“Aí é que tá! É aí que eu queria chegar. Eu nunca mudei a aparência dela e olha como ela é.”

Marcelo abanou o celular na frente do médico. Depois colocou o celular do lado do rosto de Marcelino. De fato, Marcela em nada se parecia com Marcelino. Ela tinha o rosto bronzeado, um cabelo loiro 90% liso, 5% ondulado e 5% liso de novo, um sorriso com dentes grandes, muito brancos e… olhos cor de laranja. Marcela usava um vestido que ia até abaixo dos joelhos, então não era possível ver se Marcelo requisitou alguma outra característica corporal, mas ela tinha uma cauda alaranjada e uma solitária asinha nas costas, que, se conseguisse sustentar o peso de seu corpo no céu, a faria voar em círculos.

O médico deu um risinho primeiro, depois se recompôs: “Veja bem, meu caro, achávamos que você estava querendo gerar um filho… não…uma criatura. A matriz combinadora, quando vai gerar o DNA, corrige essas distorções para que o código genético saia o de um ser humano padrão. Não sei se você está acompanhando o crescimento do filho de Patti Ramirez pelos tabloides, mas ele não tem uma cabeça de capacete igual à mãe.”

Marcelo saiu da clínica desconsolado. Chegou mesmo a empurrar um ou outro leitor do slogan que se colocou em seu caminho quando ganhou a calçada. Não achou necessário discutir esse tipo de minúcia no momento da geração de Marcelino porque para ele era óbvio que o filho sairia com alguma característica da mãe. Fez até uma pergunta séria, que provavelmente foi encarada como uma piada, sobre a possibilidade de estimar o tamanho da cauda do bebê pelo ultrassom. A filha do casal de amigos ter saído normal já era esperado, uma vez que o marido criou uma pessoa artificial à imagem e semelhança de uma ex-namorada.

Marcelino fingiu que estava tão revoltado quanto o pai, mas a verdade é que não estava. O sentimento era de alívio pelas coisas terem saído do jeito que saíram. Ele não se importaria de ser uma criatura, desde que vivesse em um mundo já povoado por outras, de modo que ele pudesse se imiscuir entre todos sem chamar atenção. Fosse a clínica tão biruta quanto seu pai, ele teria corrido o risco real de ser uma das primeiras criaturas do mundo, com todas as dores e deveres que tal papel carregava. Certamente recairia sobre suas costas a responsabilidade de organizar todas as edições do Encontro Anual de Criaturas, que reuniria ele, uma criatura do Rio Grande do Sul e outra em Minnesota — que reclamaria todo ano do evento ser sempre sediado na cidade de Marcelino, uma franca injustiça com o Associação de Criaturas de Minnesota (1 membro) e particularmente com ela, que era obrigada a vencer grandes distâncias com suas minúsculas patinhas de lagarta para pode participar.

Marcelo voltou na clínica mais tarde naquele dia para perguntar porque as alterações não eram aprovadas pelos pais antes. Doutor Ricardo puxou a ficha de Marcelino e explicou que eles só retiraram a cauda e a asinha. Os olhos foram alterados para um marrom claro, já que o tom de laranja dos olhos de Marcela era mais para claro, e os dentes eles deixaram normais, já que os de Marcela obviamente eram próteses. Foi só isso. Mas Marcelo continuava encucado. “Então se eu pegar o DNA do meu filho, da minha esposa e meu, e colocar para analisar, vai dar que Marcelino é nosso filho?”

O médico: “Coloco minha mão no fogo que sim”.

Marcelo saiu ameaçando que faria então o teste, mas em outro laboratório, mais idôneo. O teste foi feito em um momento inoportuno. Marcela acompanhava uma transmissão ao vivo do unboxing de um sarcófago quando precisou ser desligada para a coleta do DNA. Ficou mortificada. O laudo atestou que Marcelo e Marcela eram pais de Marcelino, um procedimento padrão do laboratório em casos como aquele — quando um dos pais era uma Pessoa Artificial. A fraude foi descoberta muitos anos depois, em um escândalo que chamuscou um pouco a imagem do laboratório (de instituição idônea, passou a ser visto como “aquele laboratório lá que não queria magoar ninguém com resultados corretos, então falava o que as pessoas queriam ouvir”). Nessa época, criaturas já habitavam a Terra, e era a vez de Marcelino ser pai. A filha teria uma cauda e uma asa, em homenagem à mãe, que foi descontinuada depois que Marcelo morreu e Marcelino ficou inadimplente com a empresa de Pessoas Artificiais por mais de 2 meses.

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